O Brasil é potência transatlântica: Que venham pois todos aqui comerciar, nada mais; porém, em pé de perfeita igualdade …” (1)
José Bonifácio de Andrada e Silva
talvez o primeiro brasileiro a assumir consciência da maritimidade nacional
1987- Projeto Rumo ao Mar/Primórdios do RUMAR:
O Conte Carlos Borba, então Coordenador Nacional dos Escoteiros do Mar, com o propósito de auxiliar a alavancagem da arte marinheira e a navegação a vela no Brasil, propôs o projeto Rumo ao Mar (2) com as seguintes metas:
1- dotar os Grupos de Escoteiros do Mar de todo o Brasil com embarcações adequadas às práticas marinheiras e,
2- despertar o gosto pelas coisas do Mar”. “O projeto da embarcação a ser utilizada, foi encomendado ao Engenheiro Maurillo Vinhas de Queirós, ex Escoteiro do Mar que, fora projetista dos escaleres em uso na Escola Naval. A embarcação, deveria ser guarnecida por 4 a 8 jovens Escoteiros” (3);
Primeiro barco da série “Sea Scout”
“Flor de Lis” da série “Sea Scout” em ação (embarcação do 116º Grupo de Escoteiros do Mar – 2011)
2007- Origens do RUMAR:
Neste ano, o Conte Carlos Borba sugeriu ampliar o escopo original do Projeto Rumo ao Mar, adequando as demandas que emergiam na virada do milênio.
A- A recente conquista da “Amazônia Azul”, seu significado, Importância e Valor para os Brasileiros:
1- 5,7 milhões de km² de área, formada por mais de três milhões de km² de Zona Econômica Exclusiva (ZEE) e mais 950 mil km² de plataforma continental. Juntos, esses espaços marítimos correspondem a 52% do nosso território. Para se alcançar o traçado final dos limites marítimos da “Amazônia Azul”, foi preciso realizar o levantamento de montanhas, picos e vales submersos, com detalhes da localização, profundidade, espessura de sedimentos e composição de cada ponto da plataforma.
2- 98% das cargas de nosso comércio, doméstico ou internacional, são transportadas por navios” (4);
3- “retiramos mais de 85% do nosso petróleo e 75% do gás natural dos oceanos;
4- 95% do comércio exterior brasileiro é realizado por via marítima;
5- 45% do pescado extraímos do mar;
6- no litoral concentra-se 80% da população;
7- nos 8.500 km de costa, estão localizados os principais destinos turísticos nacionais” (5);
8- a Plataforma Continental brasileira coberta pelo Oceano Atlântico, contém em seu subsolo pelo menos 17 variedades de minerais, entre ferro, níquel, carvão, estanho, ouro, diamante, calcário, areia, fósforo e cobre […] (6).
B- A boa utilização dos recursos hídricos da Nação:
1- Rios e bacias do Brasil formam uma das maiores redes fluviais do mundo (6);
2- O Brasil tem 44.000 km de vias navegáveis mas, apenas 8.500 encontram-se em uso regular como hidrovias, dos quais 5.700 quilômetros na Região Amazônica. Há mais de 5.000 anos, os egípcios já utilizavam o rio Nilo como um eficiente corredor de transporte Norte-Sul que unia os extremos do país;
3- Desde o final do século XVIII tem sido vislumbrada a possibilidade de integração das bacias hidrográficas do Orinoco, Amazonas e Prata que estão dispostas na direção Norte-Sul, predominante no continente sul-americano batizada de a “Grande Hidrovia”, constituindo uma formidável via aquática interior entre o Caribe e o rio da Prata (8);
BACIAS HIDROGRÁFICAS DA AMÉRICA DO SUL (7)
<https://online.unisc.br/acadnet/anais/index.php/veeri/article/view/13257/2414> (consultado em 15/11/2017)
4- A Europa Continental tem hoje 37.000 quilômetros de hidrovias, dos quais 40% são canais artificias (alguns dos quais se cruzam em níveis diferentes), com cerca de 700 eclusas (8);
5- O transporte hidroviário é o mais barato e eficiente para a movimentação de grandes cargas a longa distância (8).
C- O aproveitamento das águas para a produção de proteínas visando atender a uma demanda alimentar crescente:
1- O Brasil possui uma das maiores reservas hídricas do Mundo, concentrando cerca de 12% da água doce superficial disponível no planeta. (9)
D- A reciclagem dos métodos de pesca – de captura para criação (fazendas marinhas):
1- a aquicultura (tratamento do ambiente aquático para criação de peixes, mariscos etc., e também para cultivo de produtos naturais) como uma alternativa para a produção de peixes para consumo humano;
2- reconstrução de estoques marinho com a ajuda de recifes artificiais, repovoamento …;
3- aperfeiçoamento das técnicas de pesca e do equipamento usado para tal.
E- O resgate da vocação marítima brasileira e sua cultura – “Mentalidade Marítima”:
1- Historicamente, o Brasil nasceu com vocação marítima, não só por ter sido descoberto e colonizado por uma nação marítima, mas também por ter sofrido suas primeiras invasões pelo mar. O desenvolvimento nacional ainda é, e continuará sendo, dependente das vias marítimas para grande parte de suas atividades. Entretanto, devido a fatores conjunturais, ocorreu migração econômica para o interior, com “as costas” voltadas para o mar em diferentes aspectos entre eles, os transportes e a alimentação.
O Almte. Paulo Moreira da Silva (6) celebrizou a expressão: “Os Brasileiros encontram-se de costas para o Mar”. Com o fortalecimento da “Mentalidade Marítima”, iremos inverter este olhar.
Dessa forma, houve, no seio da população brasileira, uma degradação da “Mentalidade Marítima”*, a ponto de, nos dias atuais, os brasileiros, em sua grande maioria, pensarem no mar apenas de forma lúdica. Daí decorre a necessidade geradora de uma Ação que pretenda resgatar tal mentalidade na população, nos níveis necessários e coerentes com dimensão de uma Nação eminentemente marítima como o Brasil. *grifo nosso <https://www.mar.mil.br/secirm/portugues/promar.html> consultado em 12/03/2016
2- “Mentalidade Marítima “[…] “é a convicção ou crença, individual ou coletiva, da importância do mar para a Nação Brasileira e o desenvolvimento de hábitos, atitudes, comportamento ou vontade de agir no sentido de utilizar, de forma sustentável, as potencialidades do mar”(9) (Continue Lendo) <http://rumoaomar.org.br/mentalidade-maritima/tudo-sobre-mentalidade-maritima.html>.
Navegando de coração aberto em busca destes ideais, o projeto inicial vai se ampliando com novos adeptos e entusiasta.
2008 – Assembleia de Constituição:
Em 3 de junho de 2008 em Assembleia de Constituição no Museu Naval – RJ, nasce o RUMAR (10) com 81 assinaturas entre oficiais da Marinha do Brasil e civis.
A data não foi escolhida aleatoriamente, como explica o Conte Borba. Era Lua Nova, “simbolizando o compromisso de crescer continuadamente, até atingir a sua plenitude na Lua Cheia”. Aprofundando esta explicação astrológica, constata-se que o RUMAR nasceu no signo de Gêmeos.
Fonte Inspiradora – Identidade da Oranização:
1- Programa de Mentalidade Marítima – PROMAR;
Tem como meta estimular, por meio de ações planejadas, objetivas e continuadas, o desenvolvimento de uma mentalidade marítima na população brasileira, consentânea com os interesses nacionais e voltadas para um maior conhecimento do mar e seus recursos, da sua importância para o Brasil, da responsabilidade de sua exploração racional e sustentável e da consciência da necessidade de preservá-lo. <https://www.mar.mil.br/secirm/portugues/promar.html#objetivo> consultado em 09/11/2017
2- Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro – PNGC II: tem, como finalidade primordial, o estabelecimento de normas gerais visando a gestão ambiental da Zona Costeira do País, lançando as bases para a formulação de políticas, planos e programas estaduais e municipais. Para tanto, busca os seguintes objetivos: 2.1. A promoção do ordenamento do uso dos recursos naturais e da ocupação dos espaços costeiros, subsidiando e otimizando a aplicação dos instrumentos de controle e de gestão pró-ativada Zona Costeira; 2.2. O estabelecimento do processo de gestão, de forma integrada, descentraliza da e participativa, das atividades socioeconômicas na Zona Costeira, de modo a contribuir para e levar a qualidade de vida de sua população, e a proteção de seu patrimônio natural, histórico, étnico e cultural; 2.3. O desenvolvimento sistemático do diagnóstico da qualidade ambiental da Zona Costeira, identificando suas potencialidades, vulnerabilidades e tendências predominantes, como elemento essencial para o processo de gestão; 2.4. A incorporação da dimensão ambiental nas políticas setoriais voltadas à gestão integrada dos ambientes costeiros e marinhos, compatibilizando-as como PNGC; 2.5. O efetivo controle sobre os agentes causadores de poluição ou degradação ambiental sob todas as formas, que ameacem a qualidade de vida na Zona Costeira; e 2.6. A produção e difusão do conhecimento necessário ao desenvolvimento e aprimoramento das ações de Gerenciamento Costeiro. <http://www.mma.gov.br/estruturas/orla/_arquivos/pngc2.pdf> consultado em 12/03/2016;
3– Além disto, deveria também contribuir para estreitar os laços que unem a MB com a Sociedade Civil, aumentando a cumplicidade entre ambas. Portanto, deveria ser uma organização híbrida formada por militares e civis.
O Progresso do Brasil passa inexoravelmente pela incorporação de todas as suas regiões ao processo de desenvolvimento da Nação. Este raciocínio se aplica indistintamente a todas as Nações do Planeta e aos oceanos que cobrem ¾ partes de sua superfície. Considerando que a “Amazônia Azul” corresponde a 52% da área total do território Nacional, temos a seguinte equação:
terra + mar = 14.210.000 km²
[…] “Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza.
[…]
Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte” […] (11).
Considerando-se ainda os 44.000 km de suas vias navegáveis, evidenciam os números a importância que vem a ter a “Mentalidade Marítima” como energia realizadora, para que o Brasil assuma plenamente suas responsabilidades diante da alvorada luminosa do renascimento inevitável da Humanidade. Cientes de que a “Lei Áurea” do Marinheiro é a Solidariedade (Continue Lendo) <https://www.rumar.org.br/o-mar/>, podemos estar seguros que a força emanada por esta postura prevalecente, nos conduzirá por “Novos Caminhos do Mar”, descortinando imenso e esplêndido horizonte, que será a marca do terceiro milênio que se inicia. É notório e sem sombra de dúvida, estamos na Alvorada de novos tempos. Os modelos hegemônicos atingiram os seus limites: estão literalmente exauridos. O momento é de inflexão. Vale lembrar, que uma “potência inovadora” sempre esteve presente nos momentos graves e decisivos na História da Humanidade. Fazemos referência a “Escola de Sagre”, que nunca se materializou em termos de paredes e teto.
Astrolábio astronômico planisférico (à esquerda) e Modelo de astrolábio náutico português (à direita) (12)
Não era mais do que um núcleo de cientistas portugueses e de outras nacionalidades, reunidos na casa do Infante D. Henrique de Sagres, com uma ideia central, uma intenção e um profícuo espírito de investigação: desbravar o desconhecido, revelar novos continentes e uma nova visão de mundo aos europeus.
Configuração da caravela portuguesa de 3 mastros, dos finais do século XV, mostrando o mastro grande situado no meio da quilha (12).
Num trabalho inédito, o Infante de Sagres revela capacidades de planejador, organizador e administrador de fazer inveja a muitos empresários modernos, desenvolve técnicas náuticas e influencia os meios eruditos europeus, obtendo projeção universal com os Descobrimentos das Navegações dos séculos XV e XVI (12).
A prova de que os estudos de D.Henrique de Sagres falavam da terra desconhecida, é o mapa do Cartógrafo veneziano André Bianco datado de 1436 mencionando uma região fronteira à África. Para os navegadores portugueses portanto, a existência da grande ilha austral, já não era assunto ignorado. (13)
Carta de Henricus Martellus, de 1489. Note-se o realismo da representação de toda a costa ocidental da áfrica cartografada pelos portugueses em contraste com os grandes erros da costa oriental africana e do continente asiático, ainda não atingidas pelos navegantes de Portugal. Numa das legendas (sobre o Atlântico, na região equatorial), o cartógrafo escreveu (em latim): “Esta é a verdadeira moderna forma da África segundo a descrição dos Portugueses desde o Mar Mediterrâneo até o Oceano (Índico) meridional.’ (12)
No meio deste cenário, com a descoberta do “Novo Mundo”, surge a Terra de Vera Cruz, hoje chamado Brasil, onde já se confraternizam de forma original, povos de todo o planeta. Uma constrangedora ignorância a respeito destes fatos, começa a ser ultrapassada. Há uma geração mais aberta, uma massa crescente de juventude apta a interessar-se pela singularidade de nossa História. Mas é necessário estimulá-la.
“É preciso reencontrar o passado. Um povo que perde seu passado perde também as balizas de seu futuro” (14).
Celso da Rocha Miranda
Estes são os parâmetros que norteiam o RUMAR – Instituto Rumo ao Mar, inspirando suas atividades e projetos, para juntos vencermos o bom combate contra as mazelas que ora se interpõem no caminho de um Brasil potência marítima (1).
A Poetisa Cecília Meireles sinaliza em seu verso o valor transcendental do Mar para o Planeta e para a Humanidade. Pois se “foi deste sempre o mar” para o Mundo e para as gentes, já passa da hora de o Brasil assumir sua inevitável vocação marítima (1)
Cecília Meireles
“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce. Deus quis que aterra fosse toda uma, Que o mar unisse, já não separasse.” (6)
Fernando Pessoa
Notas e Referências:
1- “O Brasil e o Mar no Século XXI”, CEMBRA 2ª edição;
2- O Lema RUMO AO MAR, foi adotado em 1910 pelo então Ministro da Marinha, Almirante Alexandrino de Alencar;
3- Anotações do Conte Borba;
4– http://www.praticagemdobrasil.org.br/praticagem/o-pratico/ (consultado em 28/01/2016);
5– https://www.marinha.mil.br/ (consultado em 27/01/2016);
6– “Amazônia Azul’. A Última Fronteira Centro de Comunicação Social da Marinha – CCSM 2013
7– http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2009/10/rios-e-bacias-do-brasil-formam-uma-das-maiores-redes-fluviais-do-mundo; (consultado em 15/11/2017)
8- “A Hora das Hidrovias – Estradas Para o Futuro do Brasil” Geraldo Luis Lino, Lorenzo Carrasco e Nilder Costa 3ª Edição;
9– http://www.watercleanbrasil.com.br/noticia/?y=RESERVAS%20HIDRICAS%20DO%20BRASIL&n=2 ; (consultado em 15/11/2017)
10- A sigla original em sua fundação, foi IRMAR;
11- Hino Nacional Brasileiro, letra de Joaquim Osório Duque Estrada, 1909 e música de Francisco Manuel da Silva, 1831;
12- A Ciência Náutica e a Expansão Marítima Portuguesa. Dúvidas, certezas e deturpações Históricas A. J. Silva Soares Academia de Marinha Lisboa 1997;
13- Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho, Espírito Humberto de Campos; [psicografado por] Francisco Cândido Xavier – 34ª ed. – Brasília: FEB 2016;
14- O Semeador – Celso da Rocha Miranda, Tom Cardoso 19 Design e Editora Rio de Janeiro, setembro 2016.